quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Weber e a Religião

Weber concentrou a sua atenção nas religiões ditas mundiais, aquelas que atraíram um grande número de crentes e que afectaram, em grande medida, o curso global da história. Teve em atenção a relação entre a religião e as mudanças sociais, acreditava que os movimentos inspirados na religião podiam produzir grandes transformações sociais, dando o exemplo do Protestantismo.
Para Weber, as concepções religiosas eram cruciais e originárias das sociedades humanas, pois o homem, como tal, sempre esteve à procura de sentido e de significado para a sua existência; não simplesmente de ajustamento emocional, mas de segurança cognitiva ao enfrentar problemas de sofrimento e morte (Ó Dea, 1969). Procura-se na religião signos de transcendência e de esperança. Assim, Weber estava preocupado em destacar a integração racional dos sistemas religiosos mundiais e não apenas o calvinista (objecto especial dos seus estudos), como resposta aos problemas básicos da condição humana: “contingência, impotência e escassez”.
Weber mostra que as religiões, ao criar respostas a tais problemas – respostas que se tornam parte da cultura estabelecida e das estruturas institucionais de uma sociedade –, influem de maneira mais íntima nas atitudes práticas dos homens com relação às várias actividades da vida diária (Ó Dea, 1969). Com isto, Weber considerava que, ao problema humano do sentido e significação existencial, a religião, de maneira eficaz, oferecia uma resposta final. Por conseguinte, como já afirmamos, ela torna-se, pela forma institucional que assume, um factor causal na determinação da acção. No caso específico do protestantismo, a sua força é vista como indispensável (mas não a única) para o surgimento do fenómeno da modernidade ocidental, com seus valores inerentes de individualismo, liberdade, democracia, progresso, entre outros.
Portanto, segundo a teoria de Weber, religião é uma das fontes causadoras de mudanças sociais. Para ele, o processo de racionalização religiosa ou de “desencantamento do mundo” culminou no calvinismo do século XVII e em muitos outros movimentos, chamados por ele de “seitas”. Desse momento em diante, procurou-se assegurar a salvação (temporal e eterna) não por meio de ritos, ou por uma fuga mística do mundo ou por uma ascética transcendente, mas acreditando-se no mundo pelo trabalho, pela profissão, pela inserção.
Portanto, segundo Weber, o capitalismo é definido pela existência de empresas cujo objectivo é produzir o maior lucro possível e cujo meio é a organização racional do trabalho e da produção. É a união do desejo de lucro e da disciplina racional que constitui historicamente o traço singular do capitalismo ocidental. Weber quis demonstrar que a conduta dos homens nas diversas sociedades só pode ser compreendida dentro do quadro da concepção geral que esses homens têm da existência. Os dogmas religiosos e sua interpretação são partes integrantes dessa visão do mundo; é preciso entendê-los para compreender a conduta dos indivíduos e dos grupos, nomeadamente o seu comportamento económico. Por outro lado, Weber quis provar que as concepções religiosas são, efectivamente, um determinante da conduta económica e, em consequência, uma das causas das transformações económicas das sociedades (Aron, 1999). Dessa forma, o capitalismo estaria motivado e animado por uma visão de mundo específica de um tipo de protestantismo que na sua acção social favoreceu a formação do regime capitalista.


Bibliografia:

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Ó DEA, Thomas F. Sociologia da religião. São Paulo: Pioneira, 1969.

WEBER, Max. Sociologia das Religiões, Relógio D’Água Editores, Abril de 2006

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